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Quanto tempo o coronavírus pode se manter vivo nos tecidos?

Começo este texto dizendo que é preciso compreender a importante diferença entre opinião e fato. Fatos são documentados, tem registros ou dados. Já a opinião é por muitas vezes, apenas a nossa interpretação com relação aos fatos.

Dito isso, pra encontrar uma possível resposta para a nossa pergunta título, é importante buscar os fatos com curiosidade epidêmica sabendo como e porque as coisas acontecem para que possamos determinar as melhores ações.

Até a publicação deste artigo, não existiam estudos conclusivos para verificar o tempo em que o vírus pode permanecer ativo nos diferentes tipos de tecidos. O que temos até o momento são:

  1. Pesquisas com outras superfícies que apontam que pode haver sobrevivência do vírus por períodos que variam de 24 a 96 horas.

  2. Pesquisas com patógenos (de modo geral e não especificamente o coronavírus) que indicam a permanência em tecidos de 72 a 96 horas e dependendo da limpeza e clima (temperatura) do local, podendo chegar a até 9 dias.

De onde obtivemos esses números?

Item 01:

Dos resultados de estudos publicados pela New England Journal of Medicine em março de 2020 que avaliou a estabilidade do COVID-19 em diversas superfícies e estimou suas taxas de declínio.

O estudo mostrou que o vírus permaneceu viável em aerossóis durante todo o experimento (3 horas) com redução nos títulos infecciosos por litro de ar de acordo com as superfícies pesquisadas.

O estudo mostra ainda que a permanência mais longa do vírus foi em aço inoxidável e plástico:

a vida média estimada foi de aproximadamente 5,6 horas em aço inoxidável e 6,8 horas em plástico, tendo como tempo máximo de 72 horas após a aplicação nessas superfícies. Essa capacidade do vírus de sobreviver em superfícies ressalta a importância da limpeza em todas elas.

Item 02: 

Pelo fato de o tecido ser poroso, pode ocorrer o acúmulo de secreções respiratórias. Por tanto, as roupas podem ser uma fonte de contaminação se tiverem contato com gotículas de pacientes ou superfícies infectadas e por não existirem dados conclusivos sobre tecidos, acaba gerando uma grande insegurança.

Então, qual dos itens (superfícies) pesquisados seria o mais “parecido” com as nossas roupas? Um artigo publicado no The New York Times sugere que poderia ser o papelão, porque ambos podem consistir em fibras que absorvem a umidade.

O vírus precisa de um pouco de umidade para sobreviver. E nesse caso, ele poderia sobreviver nas roupas por pelo menos 24 horas? Possivelmente sim! E aqui, chegamos em um ponto preocupante que são os vaporizadores usados nas peças de roupas em lojas de varejo de moda. Os steamers usam vapor e causam umidade nas peças. Ou seja, ao contrário do que muitas pessoas estão pensando sobre a higienização, podemos ter aqui um canal aberto para a proliferação (no sentido de disseminação) do vírus.

Outro senão é o de que não existe comprovação de que o vírus possa ser eliminado pela temperatura do vapor que segundo pesquisas, em alguns vaporizadores pode chegar a até 160 graus no modo turbo. Pesquisei diversas marcas e modelos existentes no mercado e nenhum deles, traz informações de que o uso dos vaporizadores podem eliminar o vírus.

A maioria das marcas fala apenas das altas temperaturas e utilização de bocais mais eficientes como os de alumínio por exemplo, para higienização de tecidos, estofados, cortinas, colchões, almofadas, lençóis e travesseiros ajudando na eliminação de ácaros e percevejos e para tirar odores de mofo e de roupa guardada. Mas, nenhum deles tem comprovação da eficácia contra o novo Coronavírus.

Desse modo, as marcas que utilizam os vaporizadores com indicação de higienização para o uso por mais de uma pessoa, não está agindo de modo seguro.





O Jornal o Estadão fez uma matéria com orientações destinada a pessoas físicas, sobre o cuidado com a higiene das peças no dia a dia. Na matéria, é possível perceber que as roupas podem transmitir o vírus sim e a única forma de eliminá-lo seria lavando com água e sabão.

Renato Kfouri, infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), disse que a maioria dos desinfetantes e produtos para a lavagem de roupas são eficazes para a higienização: “Os desinfetantes líquidos que a gente usa na limpeza do dia a dia são extremamente capazes de limpar e eliminar os resquícios de vírus de roupas e objetos.”

E não podemos esquecer de que as roupas podem ter acessórios de plástico ou metal como botões e zíperes. Em teoria, o vírus poderia sobreviver por mais tempo nesses acessórios.

Além disso, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) recomenda não sacudir a roupa possivelmente contaminada, o que poderia pulverizar o vírus no ar.

Como não há estudos científicos sobre o vírus nos tecidos, todo o cuidado no momento da reabertura de lojas e do comércio de modo geral, será de extrema importância. Estamos convivendo com um vírus com potencial de transmissão muito alto e a prevenção não é só individual, ela também deve ser coletiva.

Um ponto fundamental e inquestionável é a higienização dos espaços nas lojas uma vez que muitas delas tem em seus ambientes, superfícies onde o vírus pode permanecer por dias como nos espelhos, vidros, cobre, plástico e aço inoxidável, estes sim com resultados comprovados sobre o tempo de permanência do vírus. Desse modo, todas as lojas devem seguir protocolos de higiene para a segurança das suas equipes, fornecedores  e clientes.

Para falar sobre esse assunto e trazer orientações aos lojistas, convidei o Dr. Jorge Luiz Araújo, Professor e Consultor em Biossegurança, Doutor em Biotecnologia e Auditor em Biossegurança pela ANBIO, para responder algumas perguntas sobre biossegurança e o vírus nos tecidos.


1. Dr. Jorge, nos explique por gentileza o que é biossegurança e qual a sua importância?

Biossegurança é um processo funcional e dinâmico de fundamental importância em ambientes de atenção à Saúde, Estética, Manipulação de alimentos, e até em nossa própria casa, que envolve: prevenção e minimização dos riscos, eleva a qualidade dos serviços, do atendimento e dos produtos. Ela é uma aliada fundamental na redução das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde – IRAS, dos acidentes ocupacionais, além de um papel relevante na preservação do meio ambiente.


2. Apesar dos estudos sobre quanto tempo o vírus permanece em algumas superfícies, o maior desafio desta pandemia é a incerteza sobre o potencial de contaminação. Quais cuidados o senhor recomenda dentro dos espaços de lojas uma vez que elas dispõem de muitas superfícies onde o vírus pode se instalar?

Como já é amplamente divulgado, mas nunca é demais reforçar, os cuidados principais são: higienização das mãos após tocar superfícies e materiais, não tocar com as mãos no rosto, e no caso das lojas, também não tocar com as roupas ou outros materiais no rosto, manter distanciamento de pelo menos 1,5 metros de outras pessoas, e o uso de barreiras físicas, como EPI’s e dispositivos como anteparo de acrílico. Além de definir um protocolo para que a estratégia de venda seja “biossegura”. Desde o acolhimento da cliente, a apresentação dos produtos, e finalização da venda.


3. Uma das mais tradicionais práticas do varejo é a prova de roupas. Já sabemos que os clientes experimentam peças com tecidos que não foram lavados e passaram por inúmeras etapas, processos e ambientes por si só, já propícios à propagação de bactérias. Além disso, até o momento não existem estudos sobre o tempo de sobrevida do vírus da covid-19 nos tecidos. Seria possível se contaminar experimentando uma roupa dentro de loja? Existe algum produto, protocolo ou outro meio de eliminar o vírus dos tecidos?

Sim, existe a possibilidade de contaminação através das roupas sim, a partir do momento que outra pessoa manuseia essas peças de roupas, até mesmo sem vesti-las, caso essa pessoa esteja infectada, a roupa já vira uma fonte de contaminação.

Não existe uma forma segura que garanta a inativação do novo coronavírus das roupas que não seja lavando-as. Os equipamentos que usam temperatura e calor para passar as roupas, não garantem uma temperatura uniforme em todas as partes da peça, além do fato de o vapor gerado, poder ser um “veículo” de transporte para o vírus. O que muitas cidades onde o comércio está funcionando estão praticando é a proibição da prova de roupas nesse momento de pandemia.


4. As discussões sobre estratégias unidas ao excesso de informação sobre o novo Coronavírus, gera além de insegurança muita incerteza sobre as ações a serem implantadas dentro de lojas. O senhor poderia nos dizer quais pontos são fundamentais e devem ser observados com atenção e critério de higiene e segurança para as equipes e clientes?

O que eu tenho praticado com meus clientes sobre a implantação de protocolos de medidas de biossegurança para quando voltarem a funcionar está baseado em definir as medidas de proteção para as clientes, para os colaboradores e também para preservação do meio ambiente.

Definição de comportamento adequado, das barreiras de proteção, implantação de dispositivos relacionados à prevenção precisam fazer parte desse planejamento que precisa ser personalizado para cada realidade.

É interessante olhamos para o comportamento de outros países para que possamos usar como referência. Mas, é necessário e fundamental que as ações sejam adaptadas para a nossa realidade.

Nunca é demais lembrar que a Organização Mundial de Saúde enfatiza que lavar as mãos com água e sabão, usar álcool 70% e limpar e desinfetar superfícies frequentemente são medidas essenciais para impedir a propagação do COVID-19. E claro, manter o máximo possível, o distanciamento social.

Autor:

Chris Corcino – Consultora e especialista em planejamento e gestão de estratégias para negócios de moda.

Pesquisas e Referências:

  1. Entrevista com o Dr. Jorge Luiz, Professor e Consultor em Biossegurança, Doutor em Biotecnologia, Auditor em Biossegurança pela ANBIO.

  2. Vídeos, Artigos e Entrevistas:

  3. Do presidente da Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Coronavírus da UFPR.

  4. Dos integrantes e professores do Departamento de Patologia Básica da UFPR.

  5. Do Instituto de Saúde Coletiva da UFF.

  6. Da DW Brasil e Grupo Flora no Youtube. 

  7. Artigos dos sites: da Fio Cruz. Site da WHO (World Health Organization). Estudos da Imperial College e diversas reportagens na internet.

  8. Imagens: Wix e Pixabay

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